Na infância, estudou em escolas estaduais e por admirar muito os seus professores desta época, o motivou a se tornar professor. Sempre desejou estudar Engenharia e cursou Engenharia Elétrica na FEI; e foi no período da faculdade em que teve o seu primeiro emprego em uma agência bancária para arcar com os custos da mesma, pois a faculdade era em período integral e naquela época era possível trabalhar de madrugada no banco. Após formado, começou a trabalhar na Volkswagen e mais tarde na Ford. Começou a sua docência no Liceu de Artes e Ofícios para os alunos do curso técnico. Longato era muito chamado para dar palestras na região do ABC paulista, o que o aproximou de diversas universidades, inclusive o IMES. Prestou concurso e em 1996, entrou no IMES e lecionou aos sábados para as turmas do 4º ano e logo no seu primeiro ano como professor no IMES, foi paraninfo dos formandos. Por algum tempo, foi Chefe de departamento no IMES e foi convidado pelo pró-reitor para ser gestor da Escola de Computação, agora já USCS. Participou da criação do curso de Engenharia da Produção na USCS e é membro da APROXIMES, participando ativamente dos campeonatos de futebol internos da universidade. |
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Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório de Hipermídias
Depoimento de Mario Eugenio Longato,
São Caetano do Sul, 31 de maio de 2017, 58 anos
Pesquisador: Luciano Cruz
Equipe técnica: não identificado
Transcritor: Bruno Paulino Rodrigues
Pergunta:
Para começar, ia pedir par você falar nome completo, data e local de nascimento.
Resposta:
Tá. Mario Eugenio Longato[risada], eu sou de maio de 1959, e sou de São Paulo, capital.
Pergunta:
Me fala um pouco o que vêm a sua cabeça sobre sua primeira infância, o ambiente familiar, o que você se recorda.
Resposta:
É, eu até por ser de 1959, a minha recordação está presente em campinhos de futebol, a escola, aos professores da época, que eu tinha assim, uma grande admiração por eles, até por isso me tornei professor. Olhava para o professor, enxergava nele e poxa, eu admirava, eu era fã. Além de aprendiz eu era fã. Isso me fez pensar em ser professor, eu poder fazer o que faço hoje com muito carinho, dedicação e gosto, me da prazer. Hoje para mim a docência não é simplesmente ganhar pão, é seu trabalho, a docência é muito mais, a razão do meu viver, porque eu tenho, por exemplo, minha empresa de TI. Eu posso ficar apenas lá com garotos que eu trago inclusive da USCS, mas a minha infância fo permeada, graças a deus, pelos meus pais, embora não tiveram uma grande Ascenção na área de educação, mas eles sempre desejavam que eu me formasse, eu e meus irmãos. E eu encarei, fui para frente e gostei. Era um prazer ir à escola. Eu gostava de estudar. Então poxa, você ´[e um cara diferente. Não, muitas pessoas da minha época gostavam também. Hoje pode ter mudado, isso é coisa da minha cabeça, mas foi o que me trouxe como docente até hoje aqui da USCS, e os campinhos de futebol, sempre gostei muito de futebol, e nós não tínhamos mais nada, nossa dia era isso, jogar futebol, fazer seus próprios brinquedos, carrinho de rolimã, pipa, minha infância foi abençoada, eu realmente tive, meu crescimento em termos de ser humano, apoiado pelos meus pais e irmãos, que sou o mais novo, tenho que só que olhar para trás e ver que foi muito e foi o que me tornou o que eu sou hoje.
Pergunta:
E a admiração pelo professor, você se recorda de algum professor no qual você quer destacar ou algum momento nesse começo da sua vida escolar que te marcou, que você tenha essa referência até hoje?
Resposta:
Sim, a professora Edivalda, de desenho, a professora Marlie, o professor Roberto de geografia. Até hoje eu adoro geografia, eu adoro história, e na realidade o professor Roberto era professor de geografia e história, e eu admirava o saber dele, como ele fazia, como ele desenvolvia a aula, e comentava de, por exemplo, vamos falar sobre história do Egito. Poxa, meu grande sonho era ir para o Egito, eu fui no Egito, eu subi lá no Nilo de barco, passando pela área da Núbia, onde o rio trabalhava com as enchentes. A gente enxergava isso, não era nem transparência, mas a gente olhava na lousa, que o professor ou mostrava nas figuras dos livros do porque o rio Nilo era tão importante para o Egito, porque é a fonte da vida, ele extravasava, ele fazia todo um trabalho de irrigação, aí quando ele retornava o pessoal plantava, então eu quis ir até o Egito, conhecer o Nilo, por causa desses professores, por causa do professor Roberto. Certamente ele não é mais vivo hoje, mas ele me veio em mente para falar, eu até falei com ele com uma forma diferente, professor você tinha razão, é tudo isso que você falou.
Pergunta:
E qual era o grupo escolar que você frequentou?
Resposta:
O primeiro, a primeira parte, porque na época que eu estudei nós não tínhamos fundamental, médio e faculdade, nós tínhamos o primário, depois vinha o ginásio e o colegial, então o primário e o ginásio hoje, a gente fala que é o ensino fundamental, então eu estudei em escolas de bairro, uma se chama Casa da Infância do Menino Jesus, na Zona Sul, no bairro do Ipiranga, e depois fui para um colégio estadual chamado Francisco de Assis Reis, também na região do Ipiranga, e eu desenvolvi toda minha capacidade nos ensinos fundamental e médio em escolas não pagas, escolas oferecidas pelo estado. E me dei muito bem, o ensino era de boa qualidade, realmente, professores que prendiam a mente da gente, muito diferente do que vemos hoje.
Pergunta:
Você citou a figura dos seus pais, queria que você falasse um pouco do seu pai, da sua mãe, e queria que você falasse um pouco de cada um deles.
Resposta:
Meu pai, um excelente serralheiro, um oficio que ele fazia muito, fazia porque ele faleceu. Tinha um oficio de serralheiro, uma atividade bruta, mexer com forja, mexer com sorja, mexer com prensa, e ele sempre se deu muito bem nessa área, com grandes feitos, e hoje, grandes produtos que eles têm na casa da minha mãe, os portões que cercam a casa da minha mãe ainda estão lá, foram feitos por ele, funcionando, e a prova de chuva, sol, poeira, vento, os portões estão lá, e no início, como eu disse, minha mãe completou o primário, mas meu pai não. Porém, no oficio dele tinha coisas que ele sabia mais do que muita gente, porque o cálculo matemático, o uso de uma ferramenta com a precisão que ele usava realmente me impressionava, e essa visão, que eu sou engenheiro também, me formei engenharia, então essa visão da engenharia, de usar os equipamentos, de vez em quando tomar um puxão de orelha quando eu ia lá na oficina, então muitas vezes eu estava cortando madeira na serra de cortar alumínio, estraguei toda a serra dele, tomei uma nas costas de vez em quando, mas o meu pai era um bom homem realmente, e um cara profissional, muito profissional. A minha mãe, costureira, trabalhou no início da vida dela em uma empresa francesa chamado Ethan. Essa empresa até hoje existe. Uma empresa que trabalha com lingerie e roupas de mulheres, e uma eximia costureira. Costurou até muito tempo, sempre ajudou meu pai, para formar os três filhos hoje, somos em três, tenho dois irmãos, todos formado, minha irmã é arquiteta, meu irmão economista, e nós nos demos muito bem, e graças ao esforço dos dois. A minha mãe e meu pai puderam nos dar alimentação, nos dar moradia, e principalmente amor e coragem para seguir em frente.
Pregunta:
Com a questão da escola, fala um pouco desse Mario Longato jogador de futebol.
Resposta:
É, eu sempre gostei muito de jogar futebol, até hoje eu tenho a ousadia de me inscrever no time dos professores que jogam nos campeonatos internos aqui da USCS, até hoje. Já joguei em umas 4 edições para trás, no time dos funcionários, e esses funcionários foram campeões aqui da USCS, junto com os alunos, então imagine, eu com 55 anos, a meninada com 20, 21 anos, tudo bem, eu sou uma peça, meu time são outras peças, e nós fomos campeões de umas edições aqui do campeonato interno da USCS. Foi a última vez, o resto a gente participa, ganha um jogo, perde dois, um W.O, aí um se machuca, mas até hoje eu gosto dessa atividade, não só dessa atividade, eu tenho outras que eu admiro muito e gosto, exercito. Mas futebol é uma delas.
Pergunta:
E qual é seu estilo de jogador, atacante ou mais na defesa, um cara que comanda mais.
Resposta:
Armador. Eu gosto, não tenho a velocidade hoje em dia, sempre fui atacante, mas hoje em dia eu não tenho a velocidade, porque se eu for para o ataque eu não consigo voltar na defesa, então eu fico como armador. Armador colocando o pessoal de ataque e trabalhando juntamente com o pessoal da defesa, então no futebol é isso, mas eu tenho outras atividades bastante interessantes nessa área também. Uma é mergulho, já mergulhei em Galápagos, em cada local no meio de tubarão, j já vi tubarões, já fiz muitas viagens para o exterior, trabalhando com mergulho, então eu sou certificado pela PADI, já fiz muitos cursos dela, então eu sou capacitado a fazer mergulhos profundos. Quando eu falo profundo, 40m no máximo, usando nitrox, usando o que mais há de moderno na área de mergulho, e paraquedismo, que é uma coisa que faço há 30 anos e eu não consigo largar, então eu também faço paraquedismo.
Pergunta:
E quando foi que você colocou na cabeça: Vou fazer paraquedismo. Quando, você se lembra?
Resposta:
É, foi, eu sempre tive muita vontade de fazer, mas vontade e fazer as vezes tem um rio Nilo no meio[ri] que é difícil de uma margem para outra, mas foi com os amigos da empresa que eu trabalhava na Ford, que conversando com eles, vamos fazer um curso, e vou no embalo. Paraquedismo, poxa eu quero, e deu certo. Então nós fomos para o interior, lá em Boituva, onde fica o centro nacional de paraquedismo, acabei fazendo os cursos, são basicamente dois de ingresso, ASL que é Accelerated Static Line, e tem o AFF, Queda Livra Acelerada. Um você salta do avião gripado. Você tem uma fita ligada no avião e no paraquedas. Quando você salta, a fita puxa o paraquedas ele abre, a fita se solta, e a Queda Livra Acelerada você sobe 12 mil pés, aproximadamente 4km, 4 mil metros, aí você salta, né, muitos brincam falando você pula, mas não, quem pula é sapo, perereca, a gente não pula, a gente salta, e na hora que a gente chega em uma altitude de, por volta 4 mil pés, você comanda a abertura do paraquedas em um velame, a gente fala que é um velame retangular, para assim você poder comandar toda a dirigibilidade, é diferente de um paraquedas redondo. Então começou assim, ou seja, com amigos conversando, eu sempre quis fazer e deu certo. Talvez se eu não tivesse conversado sobre isso não teria dado certo, mas isso realmente é uma delícia, você não imagina como é.
Pergunta:
E como foi a sensação do primeiro salto?
Resposta:
O primeiro salto eu acho que é o mais delicioso, porque, primeiro a adrenalina, né, então a adrenalina vai à milhão. O primeiro salto é aquele que você nunca esquece, é aquele salto que você não sabe o que vai acontecer, como é que é você estar em uma aeronave, aí você está no ar daqui a pouco, você não sabe como é, então tem uma série de incógnitas, uma série de interrogações na sua cabeça, então é inesquecível, você nunca mais vai esquecer, aí nas próximas você ai acompanhando, vai fazendo trabalhos, vai exercitando, tipos de, como você vai planar, como cai mais rápido, diminui, então é técnico. Mas o primeiro salto é aquele que você nunca esquece, aí depois você tem o salto final, porque alguns você tem com a ajuda de um instrutor, assim por diante.
Pergunta:
Você está falando e eu já estou com medo aqui, e olha que eu estou na cadeira. Imagina a sensação de estar subindo no avião, sabendo que você vai descer sem o avião.
Resposta:
Sem o avião, aí você fica tipo, poxa, vai abrir o paraquedas ou não? Porque primeiro me lançam no ar, depois eu tenho eu confiar que eu vou comandar e o paraquedas vai abrir. Ah, mas deu um problema, aí você tem que saber que você vai ter que descartar aquele e abrir o reserva. E se o reserva não abrir você pensa, será que o cara da perua combi está lá embaixo me esperando? Porque aí senão eu vou morrer[risada], mas realmente o primeiro pulo é inesquecível, e cada salto é diferente[15'], você trabalha com amigos, brinca um pouquinho. Não trabalho com formação, aquilo que a gente vê na televisão, "Ah, qual o recorde? Ah, foram 300 paraquedistas, deram as mãos. " Não, eu trabalho com salto mais assim, mais de duas pessoas a gente pode até brincar, interagir com duas pessoas no máximo.
Pergunta:
Ai já é bom senso de sua parte, porque deve ser perigoso para caramba um monte de gente junta ali.
Resposta:
Isso, um sai, aí o outro sai para o outro lado, dois abrem o paraquedas ao mesmo tempo, então é bem técnico isso, não é fácil não.
Pergunta:
Voltando, estávamos falando daquele estudante que gostava muito da escola, se identificou ali com vários professores, queria que você falasse um pouco de como foi essa trajetória da escola até o início do seu mercado de trabalho.
Resposta:
Como falei, nós tínhamos, primeiramente, eu tinha eu, meus irmãos, lógico. Uma família bem unida e bem presente nas nossas vidas, na minha vida em particular. Bom, meu pai me chamava de Marinho, que eu era o menorzinho, então eu sempre fui o Marinho, hoje o pessoal me chama aqui pelo sobrenome Longato, Mario Longato, e o que aconteceu, eu tinha muita vontade de cursar em engenharia, mas qual engenharia? Na época, engenharia elétrica era muito presente, engenharia elétrica da dinheiro, mas não era tanto dinheiro que eu precisava, porém eu gosto muito de eletricidade, vivia no curto em casa, pessoal precisava alguma coisa, ah, preciso arrumar a campainha, a vitrola, vou falar vitrola aqui, mas eu não sei se todos vão saber o que é uma vitrola, um toca disco, toca disco é mais fácil, "Ah, quebrou a vitrola, leva para o Mario que ele conserta. " As vezes funcionava, mas sem uma peça, uma ficava fora e o negócio funcionava, e eu não entendia o porquê, aí eu entrei nessa área de elétrica, eletrônica, que eu sempre quis fazer, sempre quis trabalhar. Isso é associado aos professores que eu tive, que comentei contigo, aí sempre conversavam muito com os professores na época, e eles acabaram também me incentivando, não só em casa, mas falavam poxa, você tem jeito de ser engenheiro, gosta de mexer com as coisas. O professor era bem próximo da gente, então acho que, como eu falei, minha base familiar e da escola que acabou me dando competências e a ideia de iniciar um curso superior em engenharia.
Pergunta:
E até lá você não estava trabalhando.
Resposta:
Não. Eu comecei a trabalhar já na faculdade, porque, em determinado momento, a primeira faculdade que eu fiz, ela paga, então tinha que pagar. Meus pais começaram pagando, mas chegou um momento que estava complicado, então eu fui para o mercado de trabalho, e meu primeiro emprego foi em um banco, trabalhando de madrugada, olha que interessante, minha folga era de dia, e eu tinha que trabalhar que horas, se eu fazia faculdade? Então comecei a arrumar emprego a noite, e bancos contratavam muitas pessoas, porque banco rodava 24h por dia, ta certo? Então eu trabalhava em um banco, de noite, ai revezava a noite, ia para a madrugada, então trabalhei em horários completamente malucos, mas foi necessário, então trabalhava da meia noite até as 6h da manhã, das 18h à meia noite, eram horários que eu tinha para trabalhar para ter um regimento, e trabalhei em banco, mas na área de computação. Aí vem a outra vertente da computação, então ligado em engenharia, ai eu entrei em um banco trabalhando com computação, pois, como comentei, o banco trabalha 24h por dia, para fazer o processamento, então arrumei emprego, lógico, bem por baixo, era, trabalhava, não com program0dor, inicialmente e tal, mas trabalhava na parte da manipulação de equipamentos, como impressoras, e ai eu fui trabalhando. Nós estamos falando década, início da década de 80.
Pergunta:
Como era a área de TI, a área de computação de um banco no início dos anos 80?
Resposta:
Grandes computadores, apenas. Então a computação pessoal era bem bebê, eu diria que a computação pessoal ainda estava para nascer[20']. Com a história do PC, do computador pessoal, a computação pessoal, ela entrou na época de 80, então nós falávamos naquele momento só em grandes computadores. Quando eu falo em grande, a gente chama de mãe frames, hoje eles existem? Sim, mas você não falava de computadores de pequeno porte igual hoje. Nem celular tinha na época, tinha telefone normal. Hoje você fala, você tem celular? Não, eu tenho smartphone, eu tenho um computador de bolso, o que eu menos faço é ligar o celular e fazer uma conexão para alguém, eu mando mensagens, uma série de informações, consulto uma série de coisas no meu smartphone, então a computação pessoal, ela foi, primeiramente, para o desktop, que seria a era do PC, e hoje nós estamos na época dos smartphones, que computação pessoal e móvel, onde você tem um poder de processamento, hoje, de um equipamento smartphone, ele é maior que os frame que seguravam o banco todo, na época, por exemplo.
Pergunta:
Como foi esse arranjado emprego? Você falou que estava na faculdade, e aí você viu, foi fazer uma entrevista, como foi esse salto para o mercado de trabalho, que acho que muito de nossos alunos podem estar vivendo, quer dizer, podem passar no mercado de trabalho.
Resposta:
Olha, Luciano, tudo mudou muito. Quando eu decidi trabalhar para ajudar meus pais com meus custos na faculdade e assim por diante, o que eu fiz? Primeiro eu falei: "Aonde eu tenho que trabalhar? Eu tenho que trabalhar de noite ou madrugada, porque a faculdade é durante o dia. O que eu posso fazer durante a noite ou madrugada? Bom, tem várias coisas, posso ser lanterninha de cinema, guarda noturno, mas trabalhar com o que, taxista, mas aí tinha que ter carro. " Poxa. São profissões que, na época, eu tinha que procurar. Então conversando com um, conversando com outro, eu percebi que nossa, os bancos trabalham, verdade. Eu fui nas agências bancárias na época falar: "Quero trabalhar! " Olha, vou lá na rua, no centro da cidade, na rua Boa Vista, que é o RH do banco, aí chegava lá e falava: "Eu quero trabalhar! " Mas era dessa! Você quer trabalhar, está disposta a trabalhar? Sim. Com o que? Olha, eu estou fazendo faculdade ainda, não sei de nada, mas eu quero trabalhar[risos]. Ok, então vamos lá. Era um psicotécnico, e ele nos mandava para algum setor, tinham vários setores ali. Então era assim, mas isso não existe mais. Se alguém chegar hoje em um banco e perguntar quero trabalhar, onde que fica o RH? Acho que o pessoal nem sabe onde que fica o RH do banco, então isso mudou muito. Hoje, o pessoal que entra na universidade, e eu assino os relatórios de estágio, sempre iniciam um estágio novo, sempre vem para mim. Uma das coisas que a gente vê é se temos condições para o estágio, se está aderente, os de computação, engenharia, que eu faço a assinatura dos estágios que vem do CIEE, de vários órgãos aqui, e uma coisa que eu vejo é: quais empresas estão contratando? Qual o valor médio de um mercado de um estagiário? Então a gente vê que engenharia de produção, igual a gente tinha comentado, bancos contratam muitos engenheiros de produção no quinto semestre. Sabe por quê? Por causa da matemática, os bancos adoram o pessoal que trabalha com matemática, engenharia tem uma matemática muito forte, e são os melhores salários, mas computação também tem, sistemas, todos eles, e o interessante é que, na USCS, a coisa que me dá mais prazer é assinar relatório de estágio, contrato de estágio que vem para mim, você não sabe o prazer que eu tenho de fazer isso. Agora, como eles fazem isso? Não é batendo na porta de uma empresa, é através dessas agencias, então, não tinham na época, essas agências não existiam, então a gente incentiva os alunos a procurar as agências, e graças a deus nós estamos em uma boa colocação dos nossos estudantes daqui da USCS.
Pergunta:
Vamos continuar então, você estava naquele seu trabalho na área de computação, meio que se encontrou na área da computação, a engenharia se encontrou com aquela área, como se avança isso, como se dá a trajetória a partir de então?
Resposta:
Ok, como eu comentei, eu estava fazendo engenharia eletrônica, e comecei a trabalhar com computação para sobreviver, digamos assim. Aí eu me formei, chegou uma hora que eu me formei, o banco tinha uma própria área específica na área de engenharia[25], mas tinha muita coisa que era terceirizada, então eu ia ser basicamente um gestor. Então eu procurei novos desafios, estava formado, não precisava mais me preocupar, e nessa época ainda, em que eu estava concluindo meu curso, eu trabalhava de madrugada, então eu tinha uma parte. Nos últimos semestres de engenharia as aulas eram no final da tarde e a noite, e eu voltava de madrugada. Bom, o que eu faço? Preciso sair dessa vida de trabalhar de madrugada, eu quero trabalhar como todo mundo trabalha, quero viver. Aí eu procurei, fiz um processo seletivo na Volkswagen. Na própria faculdade onde eu estudava tinha um papel, vagas de emprego em uma montadora de veículos. Me candidatei, fiz as entrevistas, fiz psicotécnica, fiz um monte de coisas, e fui selecionado para trabalhar na Volkswagen como engenheiro.
Pergunta:
Pelo visto você era bom em psicotécnica, conseguia tirar de letra.
Resposta:
Era bom, isso sim eu tirava de letra, e isso tinha, não é, isso sempre teve, mas aí também o gerente me contratou na época, e ele trabalhou as questões técnicas comigo também, mas todas elas tinham psicotécnico, e aí eu entrei para o mundo automotivo, sai do banco, então se você pegar minha carteira profissional está ali, e até hoje eu me lembro, sai dia 28 de fevereiro e comecei a trabalhar de novo dia 1 de março, não fiquei um dia desempregado[risada], sai do banco e fui direto para a montadora.
Pergunta:
E na montadora qual era sua rotina?
Resposta:
A minha rotina para a montadora? É... Eu trabalhava como engenheiro, e a engenharia onde eu trabalhava era infraestrutura elétrica, de telecomunicações e também rede. Ela não se restringia só à computação ou somente à elétrica, tinha que ver tudo. Ai a tecnologia começou a mudar a minha vida, porque a computação, vamos ter uma ideia temporal, estamos falando de 85, 86, o que aconteceu nesse momento, durante todo esse processo. A era da computação pessoal, da rede de computadores e assim por diante. Comecei a associar que, todo o equipamento tem energia elétrica, tem que alimentar, mas só não basta isso. Tem que ter um computador, tem que funcionar corretamente, e aí ligou. Eu acho que dei muita sorte também, viu, Luciano, mas também tudo bem, tem que ir atrás, isso aprendi na vida, tenho que correr atrás, todos nós, a gente fala isso muito para os estudantes, ninguém vai bater na sua porta e falar que tem um emprego de oito mil dólares para você. Você terá que correr atrás. Na minha época já era assim, hoje é mais assim, porque aumentou o número de funcionários que adentram. Agora, eu dei sorte, entrei como engenheiro, tinha uma pincelada de computação, teleprocessamento na época do banco, aí uniu tudo. Eu acabei tendo uma tremenda sorte das coisas convergirem para um ponto só. Ou seja, amplificou, imagina dois vetores, mas eles apontando na mesma direção, sentido. Você dobra, entendeu? Não é em sentido contrário.
Pergunta:
E quando que a docência entrou em seu caminho?
Resposta:
Muito bem, o que aconteceu, eu, com aquela ideia fixa de trabalhar co docência, então, mais uma vez vou procurar. Comecei a minha docência em um colégio técnico chamado Liceu de Artes e Ofícios, um colégio muito famoso em SP, e é um colégio indústria, então eu comecei com disciplinas na área de circuitos elétricos, mas parou o ensino médio, é um colégio técnico, como existe as ETECs, a GV, então, o Liceu também era. Trabalhei em uma escola técnica no ensino médio, e aí comecei, né, a pegar gosto pela coisa, e conversa com um, com outro, uma coisa que acabou me aproximando da universidade[30'] foi a vontade, não é que apareceu. Eu tinha vontade, então quando você tem vontade de algo, o que acontece? Você começa a enxergar a oportunidade, até onde não tem você enxerga, e aí muitos alunos aqui da região do ABC, que eu estava na Volkswagen, muitos alunos daqui da USCS, tive estagiários na montadora da USCS, da Fundação, e outras universidades daqui da região. O pessoal costumava me chamar para palestra, pois sempre fui muito acessível, sempre, então chamavam para trabalho de conclusão de curso, para dar palestra em aula, então eu comecei a ter um contato com as universidades aqui da região, e principalmente aqui na USCS, que outros professores que trabalhavam comigo. Tem muitos professores hoje que trabalhavam na Volkswagen que agora estão na área de docência. Isso acabou me aproximando da USCS.
Pergunta:
Agora há pouco você falou sobre a emoção do primeiro salto, uma coisa que fica guardada na memória. E como foram as primeiras aulas?
Pergunta:
Olha, rapaz, a primeira aula no colégio técnico não foi assim, uma aula que fica na minha lembrança. Logico, está, mas não é que ficou marcado, por exemplo, nem o lado positivo ou negativo, então parece que aconteceu. Agora, minha primeira aula aqui na USCS foi um negócio realmente muito interessante, porque, isso nós estávamos em 96, estou aqui há 20 para 21 anos. Um professor que não está mais com a gente, Botella, que eu tinha contato, que foi um dos responsáveis aqui, o professor Aparecides, também aqui da USCS, trabalha comigo. A minha primeira aula, dava aula só de sábado. Tinha o curso vespertino e noturno. Quando eu vim aqui para a USCS, eu trabalhava de sábado, das 8h até as 17h30min, eu dava 10 aulas aqui na USCS, e mina primeira aula, que eu me lembre, redes de computadores, eu falei: "Nossa, a sala é enorme" sábado, e pessoal comparecendo de sábado, e além da presença, precisava se formar, tirar nota, e eu comecei a lecionar no quarto ano já, e o pessoas já estava no embalo, pois estavam lá, pessoal já estava se formando, então foi muito importante. Meu primeiro dia de aula não esqueço, lembro até de uma filha de professor que é amigo meu hoje, a Katia, ela fazia o curso de computação, sentava na frente, até hoje me lembro as perguntas dela, eu sei, não vou me embaraçar, mas é aquela história, me dei bem, e naquele ano eu fui paraninfo da turma, olha só, primeiro ano e fui paraninfo dessa turma pela dedicação. A minha didática hoje em dia foi muito aprimorada, mas na época, com certeza se aprende a como lecionar, não é assim, ninguém nasce com o dom de dar aula, você aprende, desenvolve, ferramenta, metodologia que você aplica na sala de aula, então, realmente, o primeiro ano, não foi sofrimento, mas chegava em casa suado, exausto, parecia que a sala tinha me vampirizado, sabe, aquela sala que você sai cheio de energia, e naquele tempo eu saia assim esgotado, parecia que drenavam a minha energia.
Pergunta:
E como era essa USCS nos anos 90 que você trabalhou?
Resposta:
É, era o IMES, instituto municipal[35'], o IMES sempre foi uma família, eu me lembro que tipo, eu dava aula de sábado, porque de semana não havia como estar presente, então eu comecei dando aula de sábado, e todo sábado, final de mês, sempre tinha algum mês que alguém fazia aniversário, ai trazia bolo, então a gente começou uma confraternização aos sábados, fora, lógico, o dia a dia de sábados que conversávamos, mas a gente fazia festa, cantava parabéns, nos reuníamos. Então eu entendo hoje o IMES, que é a USCS, sempre uma família. Embora hoje, eu sou gestor, funcionário aqui na USCS, mas uma coisa qu8e me atrai aqui é que eu me sinto muito confortável, aqui e na minha casa parece que é a mesma coisa, a gente conhece todo mundo. A gente passa, cumprimenta, fala, estou aqui vai fazer 21 anos, então eu me sinto realmente em casa, aqui na USCS.
Pergunta:
Você acompanha a trajetória da USCS há 21 anos, é possível traçar um paralelo sobre que elementos você acha que continuam, essencialmente, os mesmo, e as mudanças mais marcantes que você viu acontecer nesse período?
Resposta:
Bom, mudanças marcantes, eu não vou falar sobre as mudanças do instituto isolado, do instituto municipal, de instituto universitário para universidade, que, obviamente, eu participei, tem pessoas que trabalharam do projeto como um todo, então eu poderia ter pego mais informações, mas eu posso falar do meu ponto de vista, eu era parte disso. Eu não sabia qual era a estratégia, era professor, vinha poucas vezes, mas eu via acontecer, esse instituto municipal superior, em uma quantidade X de alunos. com cursos que era apenas ciência da computação, então, quando ele foi virando centro universitário, em 2004, se eu não me engano, na verdade 2004 já foi universidade, mas quando saiu de instituto para centro foi uma diferença realmente grande, começaram a pensar em novos cursos, só que continuou aquela ideia de família, porque em 200 não era tão grande como é hoje. Hoje nós temos por volta de 8 mil alunos que começam semestre conosco, com cursos na área de medicina, a de saúde cresceu bastante, não tínhamos essa quantidade de cursos, então eu participava dessa família, só que era um centro universitário, então tínhamos as outras tarefas que tínhamos que trabalhar, novos cursos entrando, então quando a gente trabalha com aquilo que a gente gosta, a gente quer que o lugar vá para frente, e a gente estava caminhando em um sentido, seguindo de forma correta, e também se conhecia todo mundo. Aí veio a universidade e começaram os cursos novos. Bom, o orgulho de ser USCS, como nós dizemos, eu permaneço, porque a gente começou o semestre com 8 mil alunos em diversos cursos. Agora, uma coisa que perdeu foi essa identidade, eu não conheço nenhum professor, aliás, eu conheço um gestor do curso de medicina aqui em São Caetano, não de São Paulo, e dos professores não conheço quase ninguém dos professores da medicina, mas é natural, não da para unir tudo, temos 3 campi, temos dois em São Caetano e dois em São Paulo, então era inevitável, mas mesmo assim me sinto em casa, porque o núcleo em que eu estou orbitando, muitas pessoas são da minha área, da minha época, e também aprendi a gostar dos próximos que vierem, mas a qualidade do ensino a gente percebe que se mantém ao longo do tempo, os estudantes acreditam na nossa instituição.[40']
Pergunta:
Você falou dos estudantes. E em relação aos alunos, aquelas primeiras turmas de alunos que você pegava aos sábados e os atuais alunos, dá para traçar uma paralela também? As transformações, o que foi ocorrendo, e ao mesmo tempo a transformação dos professores.
Resposta:
É, isso teve uma mudança grande, e não digo que foi uma mudança boa. Infelizmente, a gente percebe hoje que o estudante que ingressa, o esforço que a gente tem hoje para passar os semestres iniciais, para gente passar uma informação é muito mais difícil que um de 20 anos atrás. Vou dar exemplos: matemática, português, são exemplos típicos. Então eu vou me preocupar com uma disciplina chamada: Cálculo Diferencial Integral, que é uma disciplina pesada, contém cálculo. Existe uma deficiência em, por exemplo, fazer uma soma de frações, então sei eu sei fazer uma soma de 3/8 e 5/7, o pessoal tem dificuldade, poxa, estou falando de cálculo e não de continha básica, e nem a culpa deles, isso eu acho que não é a USCS, o país não andou para um lado bom em relação a preparação desses estudantes assim, de uma forma geral, não estou dizendo que todos são assim. E no que reflete isso? No esforço que o professor tem que ter para dar essa base, esse nivelamento para iniciar algumas disciplinas, inclusive na engenharia, nós temos que dar aula de reforço aos sábados, se não o professor não consegue dar aula de cálculo sem matemática básica, então deve fazer reforço ao sábado, aumentar a hora, infelizmente não conseguimos fazer de semana, para compensar. Então, por quê? Estamos primando a aprendizagem. Nossa proposta não é ter bons formandos para o mercado? Nos preocupamos aí. Agora, professores de primeiro semestre em engenharia e computação está mais complicado para os docentes.
Pergunta:
Talvez deva ser pelo que você falou na nossa conversa, aquela escola pública, a qualidade da escola pública da sua geração teve acesso diferente da qualidade da pública que a nossa atual geração. Pode ser um dos itens.
Resposta:
Com certeza. Agora, é importante falar, Luciano, que não é assim, o estudante não sabe nada. É o cenário. Não da para fechar as portas, falar que não quer o cenário, mas é esse o cenário, e eu sempre costumo falar para os professores em reuniões, eu sempre falo isso: "Professores, olha só, se um aluno entra, por exemplo, em uma USP, ele veio do Bandeirantes, Santo Américo, escolas que ficam o tempo todo, estudando de manhã, tarde, ou seja, escolas caríssimas, mais que universidades, e esse pessoal que vai ingressar em uma UNICAMP, USP, nessas escolas, digamos, publicas, de boa referência." Muito bem, esse pessoal já vem com uma bagagem muito interessante, então você pega uma USP, pega um aluno em classes, um aluno classe A, transforma em classe A+. na USCS, pegamos um aluno classe D, e não é a culpa dele, mas tem deficiência em matemática e português. Ele não está errado, ele é vítima, isso que eu costumo falar. O aluno não é o problema, o aluno é uma vítima do processo. E nós pegamos, vou falar qualificações, pego um aluno classe D, transformei ele em B. não foi A, peguei D e transformei em B. ou de B foi para A, ou de C para B. A energia gasta quando eu somar, por exemplo, um degrau, é muito maior do que estudante em uma UNICAMP, uma USP, transformar de A para A+. Então nossa responsabilidade aumenta muito.
Pergunta:
A importância da universidade, o papel dela, é esse o nosso papel.
Resposta:
Perfeito. O papel que a gente faz para cuidar desses estudantes, quando vamos na formatura, que sempre temos o discurso e é muito bacana, fico muito comovido com elas, onde o nosso reitor, por exemplo, ele comenta que pegamos o estudante, acolhemos, e estamos entregando para a família e a sociedade[45']. Qual foi a energia que colocamos ali enquanto mudamos ele nesses anos. O esforço hoje, que nós temos, é muito maior que uma universidade que tem alunos de colégios tops, vamos dizer.
Pergunta:
Voltando na questão, você como professor, essa profissão que você alvejava a tanto tempo. Hoje, em sala de aula, em todo esse período que você deu aulas. Tem algum momento que você se recorda, te lembra aquela relação daqueles bancos, aquele lugar no início, ou situações que te trouxeram a memória, queria que você falasse um pouquinho deste lado do banco escolar.
Resposta:
É constante, viu Luciano, isso aí, eu gosto de fazer analogia, então a gente conversava dos assuntos e eu fazia analogia de uma casa. Você controle por onde? Então, sempre que eu dou aula, me recordo do nome de alguns professores, não só do ensino fundamental, como do médio e da faculdade. Alguns exemplos são até engraçados. Me lembro de um professor de cálculo de uma faculdade que falou que a aula iria render um giz. O que é aula de um giz? Aí ele pegou o giz e começou a escrever. Então quebrou o giz, ele deixou lá, continuou com o pedaço na mão. O giz acabou, e ele não havia conseguido provar um cálculo, e a aula era de um giz. Ele foi pegando com o dedo o giz que sobrava, e foi completando, pois era a aula. Acabou o ponto, etc. nunca fiz uma aula de um giz, mas eu comento com ele, pois o que a gente passa as vezes? Não é só transparência, não são apenas slides, pois acaba sendo monótono. Você tem que ter várias ferramentas e mecanismos. Pode ter transparência, verbalizar, tem que escrever, ver se o aluno está escrevendo, deve dar uma atividade para o aluno refletir e entregar. Um conjunto de ferramentas, então eu acabo me lembrando de algumas coisas, como a aula de um giz, e tem coisa até engraçada em que podemos falar de professor, que antigamente se fumava nas salas. Quando fazia faculdade, o professor fumava na sala de aula, hoje isso nem pensar, e tinha um professor, que ele fumava na sala e a gente não gostava. Nunca fumei ne tive vontade, até por causa dos meus pais, que eu me lembro. E nos perguntamos como faríamos. Aí ele trazia a bala. Aí ele acendia o cigarro, e a gente, Bruno, olha a balinha. Resultado, no final de um mês ele adquiriu o vicio da balinha e não largou o cigarro, ficava com a bala em um canto e o cigarro no outro, ninguém entendia ele falando, pois imagina alguém falando com uma bala e um cigarro. Criamos um monstro. Até hoje eu me lembro, o que a gente queria, muito bem, era um professor muito bacana, e isso foi interessante.
Pergunta:
Então vocês tentaram ajudar no vicio mas fez ele ter dois vícios.
Resposta:
Isso, na balinha e no cigarro.
Resposta:
Isso, provavelmente nos dois. Mas eu sempre faço analogia. De como era o comportamento do professor, isso é uma ideia de quem já é professor, que tem aquele que é profissional e o profissional professor. Hoje eu vou falar para você, se eu for censurado por isso, hoje, para mim, a aula é uma diversão, eu venho para aula para me divertir, eu me divirto. Falei isso hoje, hoje eu lecionei[50'], aí eu falei, eu venho aqui porque me divirto, no sentido mais assim, da palavra. Hoje é uma diversão, eu curto, isso eu falei.
Pergunta:
Como surgiu a questão do gestor de curso nessa história?
Resposta:
É, hoje eu sou gestor de curso. Eu fui, na época do IMES, nós tínhamos um cargo chamado chefe de departamento, então tinha o gestor e o chefe de departamento. Nisso quanto instituto de ensino municipal, e eu fui chefe de departamento. O gestor e o chefe eram ambos os mesmos, e tinham dois casos. O chefe de departamento cuidava mais da parte dos professores, do RH, promoção, era mais dos professores, já o gestor possuía as habilidades, as competências das matérias do curso, mas quando se tornou centro universitário acabou, e apareceu somente a figura do gestor. Elas se fundiram. Antes havia o gestor e o chefe, agora só existe um. A gente cuida do professor e do curso. Mas eu tive um convite do pró reitor, me chamou, mas largar a sala de aula? Eu não quero. Mas eu encarei como um desafio, uma coisa diferente. Graças a deus está dando certo, estou conseguindo manter os cursos em um bom nível, fazendo os vestibulares, mas eu nunca manifestei interesse em ser gestor, porque na verdade eu sou professor, ninguém me tira mais essa titulação, agora eu estou gestor, mas amanhã posso não ser mais. Está sendo uma experiencia muito interessante, bacana, mas eu gosto de palco.
Pergunta:
Como está sendo a rotina, todos esses grandes desafios do gestor?
Resposta:
Bom, primeiro que nós temos 700 estudantes no curso que tenho, e cerca de 50 professores. Temos os problemas normais de aluno com professor, isso é normal. Onde você coloca muita gente pode ter problemas, ocorrer uma divergência. Graças a deus aqui não tem com muita frequência, então é bem tranquilo, mas você tem que intervir nessa situação, estar próximo do estudante, resolver o problema, ajudar, sempre dar atenção. Isso é uma coisa que eu aprendi, você tem que dar atenção ao estudante, o estudante vai te procurar, você deve estar lá, e tem que resolver o problema dele, sem dúvida, você deve resolver o problema dele, tem q ir atrás. Essa é a diferença que eu acho que a gente tem que ter correr atrás, tem que conhecer os departamentos, tem que conhecer nosso sistema acadêmico, que como sou gestor tenho facilidade de acessar esse sistema, pegar as informações, um diferencial interessante que eu tenho, mas é isso, e cuidar da qualidade das aulas para ficarem boas.
Pergunta:
Fala um pouquinho sobre a escola de computação?
Resposta:
Escola de computação? Para eu falar da escola de computação, eu preciso falar também do mercado. Quando o aluno se forma, ele se formou, e aí? Computação é uma coisa interessante, ela nunca esteve em baixa. Nosso país já teve maro linhas, grandes enchentes, maremotos, inclusive vivemos um hoje em dia, mas a área de computação, o profissional de computação, ele tem uma aderência muito grande de muitas áreas em uma empresa, então ele não fica sem emprego, o que eu quer passar, um aluno da computação, aquele que se dedica, então, o que eu falo, eu comento, isso que a gente conversa, eu iniciei antes da faculdade, a gente fala isso para os alunos.[55'] Eles podem ser meus filhos, tem idade, então, 20 anos é idade para ter um filho já, e a gente acaba concedendo aos meninos, e fala para eles que você não fica sem emprego. Talvez, em algum momento, você não terá aquele emprego em termos financeiros. Ah, eu quero ganhar 10 mil por mês. Talvez vá ter que ganhar 3 mil agora, se especializar, fazer uma especialização para ganhar 10. Falar inglês, que ajuda muito. Uma coisa que difere muito na nossa área é o domínio de inglês. O aluno de computação tem contato com as disciplinas de ciências da computação, sistema de informação, GTI, gestão de tecnologia e informação com as outras disciplinas do curso. Todos eles dão êxito, poucos acabam saindo do eixo que se formaram e vão fazer outro tipo de atividade. Tem um aluno que se formou há oito anos, e eu mantenho muitos no facebook, tenho muitos mil seguidores e contatos lá. Tem um menino, o Hélio, sempre foi na área, perdeu emprego, me procurou, então mandamos currículos para alguns lugares, e há três semanas atrás, professor, porque ele me chama de professor, eu estou empregado. Olha que interessante, ele foi trabalhar de Uber. Era de TI, perdeu o emprego, e casado, com filho pequeno, precisava fazer algo. Professor, manda meu currículo, por favor. Nesse tempo ele foi trabalhar como Uber, não com programação. Ficou lá dois meses, acho, e há três semanas atrás arrumou emprego. Falou que estava bem arrumado, bacana, já estava lá cerca de um mês e precisava contratar dois, se eu não tinha algum aluno para mandar para ele. Olha que interessante. Empregado, perdeu emprego, ficou uns três meses empregado de Uber, mas já está empregado novamente e já está requisitando pessoal para trabalhar com ele na empresa que está. Isso acontece muito, tem muitas histórias.
Pergunta:
Você falou agora há pouco do caso da universidade, como foi essa passagem para centro universitário, tem outras pessoas que acompanharam isso de perto que podem ser testemunhas, mas no caso da escola de engenharia você pode ser testemunha, porque acompanhou o nascer de perto, não é? Pode me contar um pouco?
Resposta:
Na época era um outro gestor, o Elias. No primeiro ano, primeiro semestre, quem estava era o Elias. Então foi uma ideia, porque minha especialização é engenharia de produção também. Mestrado e doutorado em engenharia e mecânica, então você vê que é meio bagunçado, mas é tudo alinhado, tem computação no meio, e na época que o pessoal viu que abriu de engenharia, qual era o melhor curso? De produção, pois é para qualquer área. Bancos, contrato de engenheiro de produção, fabricantes, lógico, serviço, tudo tem sequencias, processos, e aí arriscamos, nunca tivemos um curso de engenharia, de exatas, fora computação, e aqui na região temos grandes players. A FEI, Mauá, por exemplo. A região do ABC é muito forte em engenharia. Falei duas fantásticas, mas tem mais depois delas com esse curso. Ou seja, era provável ter, fizemos e deu certo. Formamos uma bora quantidade de ingressantes. Uma turma com mais ou menos 60 estudantes, turma cheia. Lógico, ao longo do tempo um pessoal desiste, natural em qualquer curso, e já estamos no quinto semestre do curso. Estamos pensando em outros cursos, mas tudo em seu tempo [01:00'].
Pergunta:
Como você apresentaria a USCS para alguém, com poucas palavras, como você definiria ela, para alguém que não a conhecesse.
Resposta:
Começo com um discurso bem interessante. Não que sou contra o que falarei. Não vou falar nomes aqui, porque não interessa, mas vou pegar a universidade ABC, XP, ZZ, universidades pagas. Então ela é paga e tem alguém olhando, um capitalista que precisa, talvez, trocar o barco, ver um novo helicóptero, trocar de casa. Não sou contra isso. Eu tenho uma empresa hoje, então a empresa está lá para eu ganhar dinheiro, não sou contra isso. E eu começo esse discurso. A USCS também é paga. Uma autarquia auto sustentada. Mas costumo sempre dizer que não tem dono, então a gente não deve dar satisfação para um capitalista, mas sim, como é uma autarquia, a lei de responsabilidade fiscal, não podemos ter um custo maior que a receita, e folha de pagamento não pode ser maior. Temos que obedecer a esses preceitos. Mas não temos que dar lucro, ou seja, tudo que nós temos pode ser revestido na universidade, e vou te falar uma coisa, nas universidades próximas, agora já melhorou, mas tinha há muito tempo na USCS, todas as salas com ar condicionado, com projetor multimidia, hoje está mais fácil pois caiu o preço, mas era difícil pegar uma universidade com nossa estrutura, pois nós podemos investir na própria universidade, ou seja, a receita proveniente de serviços e mensalidades, revertemos na universidade, e isso é um diferencial.
Pergunta:
E o que essa universidade representa para você?
Resposta:
Hoje ela é parte da minha vida. Ela não representa, ela é parte, é difícil de se expressar, mas por que faz parte? Tem muitas coisas que fazem partes, algumas amizades que estçao longe, algum livro, atividade, um cliente da empresa, não, a universidade faz parte de mim. Da mesma forma que tenho minha vida com esposa, filha parentes, a USCS também representa isso. Estou a anos com uma organização de professores, se eu saio me chamam novamente, então hoje faz parte da minha vida, nesse momento. Tenho que começar a pensar e baixar um pouco a poeira, ou seja, porque o corpo vai desgastando, vamos cansando junto, mas temos que nos preparar para o futuro, então, não que eu queira me aposentar, eu tenho mais alguns jogos de futebol, campeonatos[risadas] para disputar, mas hoje ela faz parte do meu dia a dia, parte da minha vida, da minha essência, eu diria.
Pergunta:
Sobre essa organização, fala um pouco dela?
Resposta:
Teve e tem um papel muito importante na agregação dos professores. Estamos próximos de ter a festa junina, onde nós trazemos 300 pessoas entre funcionários [01:05'], então teremos uma festa junina que todos aguardam, quando falamos todos são professores, filhos e netos, então tem muito professor que vem com os filhos e netos, então tem vários professores com netos de 3, 4 anos, ou pais, vô, aqui vai ter a festa junina, então, realmente, aproxime-se. Estamos com 350 docentes, e essa organização conta com um pouco mais da metade dos professores, não todos, pois cresceu muito, aí você vê que não conhece direito, mas nós temos aí mais de metade de professores associados.
Pergunta:
Estamos encaminhando para o fim, mas são 21 anos, com certeza várias histórias, acontecimentos, se recorda de algo pitoresco, ou mesmo engraçado, ou não, algum problema ou alguma coisa que você acha que é importante destacar nessa trajetória?
Resposta:
Algumas coisas me marcaram de uma forma bem positiva. Quando nós convidamos um ex aluno nosso, Elber, que ele simplesmente foi presidente interino da Intel no Brasil, e trouxemos ele para um bate papo, então olha só, Elber, hoje ele saiu da Intel. Quando falamos em Intel, a Intel, eu diria que Microsoft não conhece pois se usa Word, Windows, muito isso. A Intel é o coração, processador, memórias, então a Intel é a maior empresa de microprocessadores do planeta. É uma empresa que não desassocia a Intel da computação, pois é a base. E esse cara foi simplesmente o presidente da Intel, e um Ex aluno, então quando chamamos, aquilo me comoveu. poxa, o Elber aqui na nossa frente, se lascando na matemática, tendo aula com o Laurito, ex professor, tendo aula de cálculo, uma série de coisas, aonde ele chegou. E o menino disse algo muito importante, que você enxerga e fala que poxa, se ele pode todos podem, os demais, e nascemos hoje, assim, muitos estudantes em posição de gerência. Uma outra coisa que aconteceu, imagine, eu com um aluno, não comigo, mas com um professor, o aluno se formou, foi aluno, se formou, aí o professor, além de lecionar, atuou na área fora da universidade, e esse aluno é chefe dele, olha que interessante.
Pergunta:
Palmas para ele.
Resposta:
E esse professor não dá boas notas não, exigente, competente ao extremo e bem seguro. Ninguém reclama, eu como gestor nunca vi nenhum estudante falar, e você vê as notas dele e ele sapeca, e parece que o estudante gosta, pois veem o que ele fala, e hoje ele está aqui conosco, o aluno que se formou sentou na cadeira e é chefe dele. É uma coisa bacana. Aspectos negativos pode até ter tido, mas algo que marcou, vou ter que buscar aqui, não vejo aspecto negativo. Lógico, briguinha de aluno e professor, sempre teve, ou com a direção, nosso professor com gestor, pode acontecer alguma coisa, mas nada que venha na minha mente agora que eu possa estar colocando.
Pergunta:
Para a gente falar de uma trajetória de vida temos sempre que ver pontos que nos marcaram, vários segmentos, então para falar do mundo da música, então fala da primeira vez que ouvi chega de saudade, que foi um momento de mudança, ou outras coisas, a sua vida, você tem como identificar algum marco ou momento que você fale que olha, me deu um outro norte, que o contato seja profissional, trabalho, mudou radicalmente. Você conseguiria distinguir[1:10']?
Resposta:
Vou falar um ponto importante, que acho que mudou minha vida. Tiveram vários pontos importantes, ou seja, acaba rolando algo ou outro, mas um ponto que mudou foi quando eu saí da iniciativa privada, Volks, Ford, e estava na universidade também. Aí eu tive que me afastar durante 6 meses por causa de um projeto que eu tive de ficar nos Estados Unidos. Fiquei em Detroit, no QG da Ford, trazendo um projeto novo para cá, e tive de me afastar da USCS, então fiquei sem lecionar por um tempo. Bom, voltei, fiz o trabalho que tive de fazer, após isso pedi a conta e vim para a docência[risada]. Isso até me arrepia quando falo, pois mudou minha vida. Poderia estar até hoje na Ford, não estar no Brasil. Tenho amigos que moram nos Estados Unidos, mais de um, mas eu falei, poxa, eu gostava de fazer, mas o medo, talvez, de eu ir embora e ter que largar a universidade, aquilo me fez tomar uma decisão. Sair da Ford, pessoal não queria que eu saísse, aí voltei para a universidade, peguei mais aulas, acabei pegando mais pois estava o tempo todo lá, e esse foi um momento que minha vida mudou, se eu não tivesse feito isso, talvez eu nem estaria aqui nessa conversa hoje, então foi uma mudança, e o que fez mudar foi justamente isso, minha vontade de estar na sala de aula. Até hoje tranquilo, consciência tranquila, e eu tomei a decisão certa. A empresa vem depois, ela é minha, não sou funcionário de uma multinacional.
Pergunta:
Encerrando, não que eu não acredite que você seja um bom jogador de futebol, mas para situar, se a gente pensar em um jogador de futebol profissional, qual é aquele que seu estilo mais se assemelha?
Resposta:
Gerson.
Pergunta:
Legal que você é humilde. Gerson.
Resposta:
Não, é pela posição, Gerson, canhotinha de ouro, embora eu não seja canhoto, mas pela armação eu gostava muito do Gerson, e eu tento ser assim, não que eu consiga ver, mas eu estou jogado para lá, cá, sem correr muito.
Pergunta:
E qual seu time?
Resposta:
Palmeiras.
Pergunta:
Palmeirense, então. Bom, eu vou terminar, mas tem algo que você quer falar de final?
Resposta:
Simplesmente para finalizar e demonstrar meu carinho por essa instituição que é muito grande e é minha família, só registrar. Falei várias vezes, mas o orgulho que eu tenho de estar aqui compondo o corpo de docentes, funcionários da USCS. Isso é algo de grifa, põe em Arial 22, vermelho[risadas].
Pergunta:
Obrigado, então.
Lista de siglas presentes no depoimento:
USCS: Universidade Municipal de São Caetano do Sul;
IMES: Instituto Municipal de Ensino Superior;
PC: Personal Computer;
CIEE: Centro de Integração Empresa-Escola;
ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano;
SP: São Paulo
ETEC: Escola Técnica Estadual
USP: Universidade de São Paulo